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SBOC REVIEW

Quimiorradioterapia concomitante seguida de cisplatina-gencitabina versus cisplatina-fluoruracil adjuvantes para carcinoma de nasofaringe N2-3: um estudo multicêntrico, aberto, randomizado, controlado fase 3

Resumo do artigo:

O carcinoma de nasofaringe é uma doença associada ao vírus Epstein-Barr e endêmica no sudeste da Asia e sul da China. A base do tratamento historicamente é a radioterapia. O carcinoma de nasofaringe com doença N2-3 apresenta alta taxas de recidiva e atualmente é tratada com esquemas associando quimioterapia e radioterapia. Existem, porém, incertezas relacionadas ao melhor esquema de tratamento complementar a quimiorradioterapia e também se deve ser realizado como indução ou se adjuvante.

O objetivo deste estudo é comparar a eficácia e segurança dos esquemas adjuvantes com cisplatina e gencitabina versus cisplatina e fluoruracil no carcinoma de nasofaringe N2-3.

O estudo foi conduzido em quatro centros na China. Trata-se de um estudo aberto, randomizado, fase 3. Os pacientes elegíveis possuíam carcinoma de nasofaringe não-queratinizante, cT1-4 N2-3 M0. A avaliação dos pacientes incluía: nasofaringoscopia óptica, ressonância de nasofaringe e pescoço, tomografias de tórax e abdome, cintilografia óssea ou PET CT e DNA de Epstein-Barr no plasma por PCR quantitativo pré tratamento.

Ambos os grupos recebiam cisplatina concomitante a radioterapia e após um esquema com cisplatina 80 mg/m2 e gencitabina 1 g/m2 D1 e D8 ou cisplatina 80 mg/m2 e fluoruracil 4 g/m2 em infusão de 96 horas. Os pacientes eram estratificados por centro participante e por categoria nodal (N2 e N3)

O desfecho primário era sobrevida de progressão em 3 anos na população com intenção de tratar (ITT).

O período de inclusão de pacientes foi entre outubro de 2017 a julho de 2020. Foram randomizamos 240 pacientes, sendo 120 para cada tratamento. A idade mediana dos participantes foi de 45 anos, sendo 70% homens, a maioria com estadiamento T3 (63%) e N2 (59%) e o número de copias de DNA de Epstein-Barr pré tratamento foram balanceadas entre os grupos. Após um seguimento mediano de 40 meses, a sobrevida livre de progressão em 3 anos foi de 83,9% no grupo CG versus 71,5% no grupo CF, com HR de 0,54 e IC 95% 0,32-0,93 p=0,023. A sobrevida global em 3 anos foi de 90,7% no grupo CG vs 94,0% no grupo CF (sem diferença estatisticamente significante). Os eventos adversos grau 3 ou piores comparando nos grupos CG e CF foram: leucopenia (52% vs 29%), neutropenia (32% vs 16%), e mucosite (23% vs 28%), respectivamente. Ocorreu uma morte no grupo CG devido a choque séptico por neutropenia febril.

O estudo sugere que o esquema CG possa ser utilizado como tratamento adjuvante após quimiorradioterapia, apesar de mais seguimento ser necessário para confirmar os achados.

 

Comentário do avaliador científico:

O tratamento do carcinoma de nasofaringe localmente avançado historicamente é realizado através de quimiorradioterapia associado a quimioterapia complementar. O esquema clássico utilizava CF adjuvante, porém evidências questionaram o papel da adjuvancia e um estudo com CG de indução comparado apenas com quimiorradioterapia demonstrou ganho de sobrevida global.

O esquema CG já se mostrou superior ao esquema CF na doença metastática e agora como tratamento adjuvante temos a evidência do presente estudo de um ganho em sobrevida livre de progressão com significância estatística. Até o momento sem diferença em sobrevida global. O perfil de toxicidade entre os grupos é diferente, com maior toxicidade hematológica no grupo CG e maior toxicidade gastrointestinal no CF. Necessitamos mais tempo de seguimento para confirmar esses resultados e avaliar os dados de sobrevida global.

O esquema CG é utilizado como indução no mesmo cenário, porém levando-se em conta que a base do tratamento do carcinoma de nasofaringe é radioterapia e que o esquema de indução poderia postergar o início dessa terapia, questiona-se se um esquema adjuvante possa ser superior. Alguns estudos estão em andamento com esse desenho e poderemos definir o melhor o tratamento nesses pacientes. A dosagem de DNA de Epstein-Barr também é uma área de grande interesse buscando definir os casos que mais se beneficiam de intensificar o tratamento.

 

Citação: Liu LT, Liu H, Huang Y, Yang JH, Xie SY, Li YY, et al. Concurrent chemoradiotherapy followed by adjuvante cisplatin–gemcitabine versus cisplatin–fluorouracil chemotherapy for N2–3 nasopharyngeal carcinoma: a multicentre, open-label, randomised, controlled, phase 3 trial. Lancet Onco. 2023 Jul 1;24(7):798-810. https://doi.org/10.1016/S1470-2045(23)00232-2

 

Avaliador científico:

Dr. Jeziel Basso

Oncologista Clínico – formado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre

Mestrado em Ciências Médicas pela UFRGS

Atual: Hospital Moinhos de Vento e Instituto Kaplan de Oncologia