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SBOC REVIEW

Radioembolização com quimioterapia para metástases hepáticas de câncer colorretal: um estudo fase III randomizado, aberto, internacional e multicêntrico

Resumo do artigo:

Em média 60% dos pacientes com CCRM (câncer colorretal metatástico) apresentarão metástases hepáticas. A radioembolização com microesferas de Ítrio-90 (TARE) é uma radioterapia que libera partículas dentro da massa tumoral hepática, dessa forma, minimiza-se o dano ao parênquima sadio. O estudo randomizado, aberto, fase 3, multicêntrico e internacional avaliou a segurança e eficácia da associação de TARE com quimioterapia em 2ª linha.

O estudo teve como critérios de elegibilidade: ≥18 anos, metástase hepática irressecável (uni ou multilobar), PS 0-1, bilirrubina ≤ 1,2 vezes o valor superior da normalidade, albumina ≥ 3,0, tolerância para receber QT com irinotecano ou oxaliplatina. Os dois desfechos primários foram sobrevida livre de progressão (SLP) e sobrevida livre de progressão hepática (SLPh) e os desfechos secundários: sobrevida global (SG), taxa de resposta objetiva (TRO) e taxa de controle de doença (TCD).

Os pacientes foram randomizados entre maio de 2012 e agosto de 2020. A mediana de seguimento foi de 36 meses para TARE e 42,3 meses para QT apenas. O HR para SLP foi de 0,69, com mediana de 8 meses versus 7,2 meses, respectivamente. Enquanto o HR para SLPh foi de 0,59, sendo as medianas de 9,1 versus 7,2 meses, respectivamente. A SG foi de 14 meses versus 14,4 meses para o grupo TARE e QT, respectivamente, sem significância estatística (p=0,7229). A TRO foi de 34% versus 21,1% (p=0,019) e a TCD foi de 79,5 versus 72,5% (p=0,062).

Eventos adversos grau 3 foram relatados mais frequentemente no grupo da TARE (68,4%) em comparação ao grupo da QT (49,3%). Sendo fadiga e neutropenia os mais comuns. Doze eventos fatais foram reportados, 8 no grupo que recebeu TARE e 4 no QT.

A importância desse estudo se dá pela possibilidade de retardar a progressão de doença, mais evidentemente observada nos tumores do lado esquerdo, com mutação de KRAS, menos de 3 lesões hepáticas, tumores primários ressecados e uso de agente biológico. A resposta dos tumores de lado direito foi pior nesse tipo de intervenção, sugerindo que esses pacientes podem necessitar de outras abordagens.

Algumas fragilidades: 13% de pacientes não receberam a TARE planejada, além do longo tempo de condução do estudo (8 anos) em um cenário em constante evolução. Em resumo, a TARE aumentou a SLP e SLPh e não impediu que os pacientes recebessem a QT em dose padrão na 2ª linha. Porém, demais estudos são necessários a fim de identificar o melhor perfil de pacientes para essa abordagem.

 

Mulcahy MF, Mahvash A, Pracht M et. al.; EPOCH Investigators. Radioembolization With Chemotherapy for Colorectal Liver Metastases: A Randomized, Open-Label, International, Multicenter, Phase III Trial. J Clin Oncol. 2021 Dec 10;39(35):3897-3907. doi: 10.1200/JCO.21.01839.
Radioembolização com quimioterapia para metástases hepáticas de câncer colorretal: um estudo fase III randomizado, aberto, internacional e multicêntrico.

 

Comentário da avaliadora científica:

Este estudo avalia uma terapia adicional à QT de 2ª linha para pacientes com CCRM com metástases exclusivamente hepáticas. A princípio, parece uma abordagem interessante, já que temos poucas opções de terapias disponíveis em linhas subsequentes. O que poderia retardar a “troca” de linha e, dessa forma, a longo prazo apresentar um ganho de sobrevida global. No entanto, ainda não pode ser avaliada, pois não houve tempo hábil para análise de pós-progressão.

Observa-se que a radioembolização transarterial não é um procedimento isento de risco, além de necessitar de habilidade profissional e disponibilidade de tecnologia para realização da mesma. Devemos nos atentar no número maior de eventos adversos grau 3, bem como o de eventos fatais relacionados.

É de extrema importância selecionar o perfil ideal dos pacientes que poderiam se beneficiar dessa abordagem principalmente por não termos dados consistentes de ganho de SG, e o ganho de SLP e SLPh absoluto ser pequeno (aproximadamente 2 meses).

Ainda sem evidência suficiente para mudança de abordagem rotineira do paciente com CCRM atualmente, tais achados tem potencial para uma estratégia de controle local da doença.

 

Avaliadora científica:

Dra. Carolina Caetano Conopca
Oncologista clínica pelo HC-FMRP-USP
Oncologista clínica, diretora médica e responsável técnica da Clínica Medquimheo – Vitória-ES