SBOC REVIEW
Ressonância magnética versus mamografia para o rastreamento do câncer de mama em mulheres com risco familiar: um estudo multicêntrico, randomizado e controlado
Resumo do artigo:
Aproximadamente 15% das pacientes com alto risco para o câncer de mama (>20% no decorrer da vida) não apresentam mutação patogênica nos genes relacionados à predisposição hereditária. Este estudo ressalta a importância do rastreamento dessa população com ressonância magnética (RM), mesmo na ausência de mutação patogênica.
Trata-se de um estudo holandês, multicêntrico e randomizado que comparou a estratégia de rastreamento anual com exame físico (EF) e mamografia (MMG) ao rastreamento com RM anual + EF e MMG a cada 6 meses. 1355 mulheres com risco aumentado para câncer de mama, mas sem mutação identificada nos genes BRCA1, BRCA2 ou TP53, foram randomizadas.
O estudo confirmou a importância da ressonância magnética no rastreamento dessas mulheres, já que 14 (61%) dos 23 tumores diagnosticados não o seriam apenas pela mamografia. Ele demonstrou também que a realização da RM permitiu o diagnóstico da neoplasia em estágio mais precoce. No grupo que realizou a RM, os tumores eram em maioria <1cm (58%), foram identificados com menor tamanho ( 9mm x 17mm p=0,01), e com menor comprometimento de linfonodos regionais (11% x 63% p=0,014).
A especifidade de ambas as estratégias reduziu com o aumento da densidade mamária, porém a RM foi capaz de detectar tumores em estágio mais precoces, também no subgrupo com mamas densas.
Os dados de custo eficácia e de sobrevida global ainda não foram publicados. Mas sabe-se que o diagnóstico em estágio precoce está correlacionado com uma redução da mortalidade por câncer de mama e com a redução da necessidade de quimioterapia adjuvante, poupando as pacientes da toxicidade relacionadas a esse tratamento.
MRI versus mammography for breast cancer screening in women with familial risk (FaMRIsc): a multicentre, randomised, controlled trial. Lancet Oncol. 2019 Jun 17. doi:10.1016/S1470-2045(19)30275-X.
Ressonância magnética versus mamografia para o rastreamento do câncer de mama em mulheres com risco familiar: um estudo multicêntrico, randomizado e controlado.
Comentários do editor:
- Este é o primeiro estudo randomizado e que realiza ambos os exames (RM + MMG) de forma pareada.
- Ele ressalta a importância do acompanhamento de mulheres com alto risco para câncer de mama com uma estratégia de rastreamento individualizada (incluindo a RM), ainda que uma mutação patogênica não seja identificada no screening genético.
- Ele comprova que a RM aumenta a sensibilidade do rastreamento das pacientes de alto risco e demonstra que em 61% dos casos não seriam diagnosticados apenas pela MMG.
- Apesar de aumentar o número de resultados falso-positivos, a redução da especificidade com o aumento da densidade mamária foi observada em ambos os grupos. A RM permitiu o diagnóstico de tumores em estadiamento mais precoce também no subgrupo com mamas densas.
Editora:
Dra. Elizabeth Santana Dos Santos
Oncologista Clínica pelo A.C.Camargo Cancer Center. Mestre em Ciências Biológicas (especialidade Cancerologia) pela Université Paris Sud XI Faculty of Medicine, França.
Revisora:
Dra. Adriana Hepner
Membro da SBOC; Oncologista Clínica pelo Hospital Sírio Libanês; Médica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Atualmente, participa como fellow clínica do Programa de Oncologia Cutânea do Melanoma Institute Australia, em Sydney.