Instalar App SBOC


  • Toque em
  • Selecione Instalar aplicativo ou Adicionar a lista de início

SBOC REVIEW

Resultados de sobrevida em paciente portadores de oligodendroglioma grau 3 IDH com mutação 1p/19q tratados em primeira linha com a associação de radioterapia e quimioterapia com procarbazina, CCNU e vincristina ou com temozolomida

Resumo do Artigo:

Oligodendrogliomas de grau 3 são gliomas caracterizados pela mutação de genes codificadores da isocitrato desidrogenase (IDH1 ou IDH2) e deleção do braço p do cromossomo 1 e do braço q do cromossomo 19 (codeleção 1p/19q). A abordagem terapêutica envolve ressecção cirúrgica seguida de radioterapia (RT) e quimioterapia. As opções de tratamento sistêmico consistem essencialmente no esquema PCV (procarbazina, lomustina e vincristina) e na temozolomida (TMZ).

A adição de quimioterapia com agentes alquilantes à radioterapia demonstrou benefício em sobrevida. No entanto, o esquema de tratamento sistêmico de escolha permanece em discussão devido à falta de estudos randomizados comparando tais regimes.

O estudo observacional teve como objetivo comparar os resultados do tratamento de primeira linha da associação de radioterapia com o esquema PCV ou temozolomida em pacientes recém-diagnosticados com oligodendroglioma grau 3 (IDH mutado e codeleção 1p19q). A análise foi realizada com base nos dados da coorte prospectiva do programa francês denominado POLA (Prise em charge des Oligodendrogliomes Anaplasiques). O desfecho primário foi a sobrevida global e a sobrevida livre de progressão foi o desfecho secundário.

Foram incluídos na análise 305 pacientes: 207 tratados com PCV/RT (67,9%) e 98 tratados com TMZ/RT (32,1%). A duração mediana de seguimento foi de 78,4 meses e o esquema PCV/RT apresentou desfechos positivos com maior sobrevida global e sobrevida livre de progressão quando comparado com TMZ/RT.

No grupo PCV/RT, a sobrevida global mediana não foi atingida, enquanto no braço TMZ/RT foi de 140 meses (IC 95%, 110 – não atingida). A análise univariada identificou benefício estatisticamente significativo na sobrevida global em 5 anos do grupo PCV/RT (89%, IC 95%, 85 – 94) em relação ao grupo TMZ/RT (75%, IC 95%, 66 – 84) e em 10 anos (PCV/RT: 72%, IC 95%, 61 – 85 e TMZ/RT: 60%, IC 95%, 49 – 73). A diferença em favor do esquema PCV/RT foi confirmada através da análise multivariada pelo modelo de Cox ajustado para idade, tipo de tratamento cirúrgico (biópsia, ressecção subtotal ou ressecção macroscópica total), gênero, escala de performance-status (ECOG) e deleção homozigótica de CDKN2A (hazard ratio, 0,53 para PCV/RT, IC 95%, 0,30 – 0,92, p = 0,025).

Sobrevida livre de progressão mediana no grupo PCV/RT também não foi atingida, enquanto no grupo TMZ/RT foi de 60 meses (IC 95%, 36 – 110). Houve diferença em sobrevida livre de progressão em 5 anos a favor do PCV/RT (75%, IC 95%, 69 – 82) quando comparada com TMZ/RT (51%, IC 95%, 42 – 62) e em dez anos (PCV/RT: 67%, IC 95%, 60 – 75 e TMZ/RT: 35%, IC 95%, 25 – 48). A análise multivariada confirmou o benefício do esquema PCV/RT (hazard ratio 0,38, IC 95%, 0,25 – 0,58, p < 0,001).

Foram observados mais eventos de progressão precoce no braço TMZ/RT. A progressão da doença em dois anos foi observada em 33,7% dos pacientes tratados com TMZ/RT e em apenas 9,7% dos pacientes no grupo tratado com PCV/RT (p < 0,001).

Em conclusão, o estudo sugere que a combinação de PCV (procarbazina, lomustina e vincristina) e radioterapia está associada a melhores desfechos de sobrevida global e sobrevida livre de progressão quando comparada com o uso de temozolomida e radioterapia. Entretanto, ainda são necessários estudos prospectivos randomizados para melhor definição sobre o tratamento de escolha em primeira linha dos pacientes com oligodendroglioma grau 3.

 

Comentário do avaliador científico:

O benefício da associação de PCV à radioterapia foi demonstrado em dois estudos fase III randomizados (EORTC 26951 e RTOG 9402). Na comparação com radioterapia isolada, a combinação derivou benefício em sobrevida global e sobrevida livre de progressão em pacientes com oligodendroglioma IDH mutado e codeleção 1p19q.

Apesar desses dados, cerca de 38% dos pacientes no EORTC 26951 e 20% dos pacientes no RTOG 9402 descontinuaram o tratamento devido a toxicidades que vão desde reações cutâneas até mielotoxicidade prolongada.

Nesse sentido, o perfil de segurança e a dificuldade de realização do esquema PCV fazem com que alguns grupos de especialistas optem por escolher temozolomida associada à radioterapia nesse cenário.

No estudo realizado com base nos dados da coorte prospectiva do programa POLA com pacientes recém diagnosticados com oligodendroglioma grau 3, PCV/RT foi associado a maior sobrevida global e sobrevida livre de progressão em comparação com TMZ/RT. Apesar do estudo observacional fornecer informações que podem auxiliar na escolha do tratamento sistêmico, ainda há a necessidade de validação dos dados com a realização de estudos prospectivos e randomizados.

 

Citação: Kacimi SEO, Dehais C, Feuvret L, et.al; POLA Network. Survival Outcomes Associated with First-Line Procarbazine, CCNU, and Vincristine or Temozolomide in Combination with Radiotherapy in IDH-Mutant 1p/19q-Codeleted Grade 3 Oligodendroglioma. J Clin Oncol. 2024 Oct 2:JCO2400049. doi: 10.1200/JCO.24.00049. Epub ahead of print. PMID: 39356975.

 

Avaliador científico:

Dra. Heloisa Guedes Andrade

Oncologista Clínica pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – ICESP/FMUSP – São Paulo/SP

Preceptora do Programa de Residência Médica em Oncologia Clínica da FMUSP/ICESP

Oncologista Clínica na Rede D’Or São Paulo – São Paulo/SP

Instagram: @helogandrade

Cidade de Atuação: São Paulo/SP