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SBOC REVIEW

S-1 mais leucovorin e oxaliplatina versus S-1 mais cisplatina como terapia de primeira linha em pacientes com câncer gástrico avançado (SOLAR): um ensaio fase 3, aberto e randomizado

Resumo do artigo:

O câncer gástrico, quinto tipo mais comum de neoplasia no mundo, tem alta prevalência na Ásia oriental, e, à geografia, acompanham produção de ciência para esse diagnóstico, e tradições regionais no uso de algumas drogas. O SOLAR é um ensaio japonês sobre câncer gástrico e TAS-118, uma nova droga oral contendo leucovorin e S-1, que é uma combinação de compostos farmacêuticos que encerra uma pró-droga do Fluorouracil, o Tegafur.

O doublet de fluorpirimidina e platina é a terapia de primeira linha para o câncer gástrico avançado, irressecável ou recorrente. S-1 + Cisplatina, por base no JCOG9912 e no SPIRITS, vêm sendo usados na primeira linha como representantes desse duo no oriente asiático. Os triplets melhoraram a sobrevida global, embora às custas de toxicidade.

O SOLAR é um ensaio multicêntrico randomizado fase 3, que comparou TAS-118 + oxaliplatina versus S-1 + cisplatina em pacientes com adenocarcinoma gástrico ou da JEG, metastático ou recorrente. Foram incluídos pacientes com pelo menos 20 anos, com status HER2 desconhecido ou negativo, ECOG 0-1, que não receberam tratamentos anteriores para câncer gástrico. Não foram excluídos pacientes que completaram adjuvância sem platina há mais de 180 dias da recaída. O endpoint primário foi a Sobrevida Global (SG), endpoints secundários foram Sobrevida Livre de Progressão (SLP), tempo até falha do tratamento, taxa de resposta global, taxa de controle de doença e segurança.

Foram randomizados 711 pacientes, 347 para TAS-118 e oxaliplatina, e 334 para S-1 e cisplatina (após a exclusão de 19 pacientes inelegíveis), a maior parte do sexo masculino, com idade menor que 65 anos e ECOG 0, com subgrupos uniformemente distribuídos em suas características. A sobrevida global mediana foi de 16 meses (IC 95% 13.8-18.3) para TAS-118 + Oxaliplatina, e 15.1 meses no grupo controle (HR 0,83, IC 95% 0.69-0.99, p=0.039). As taxas de efeitos adversos grau 3 ou mais de maior relevância foram, para os grupos tratamento e controle, respectivamente, 16 vs 18% para anemia e 15 vs 25% para neutropenia. No grupo em que a oxaliplatina foi usada, conforme esperado, foi mais comum a neuropatia (9 vs <1%). A diarreia foi também mais frequente no grupo experimental (9 vs 4%). A SLP foi de 7.1 versus 6.4 meses, a taxa de resposta global foi de 73% versus 50% e o tempo até falha do tratamento foi de 6.1 versus 5.3 meses, com vantagens para o grupo TAS-118 e oxaliplatina (p significativo) em todos os casos.

 

S-1 plus leucovorin and oxaliplatin versus S-1 plus cisplatin as first-line therapy in patients with advanced gastric câncer (SOLAR): a randomized, open-label, phase 3 trial. Keng et al. Lancet Oncol. 2020 Aug;21(8):1045-1056.

S-1 mais leucovorin e oxaliplatina versus S-1 mais cisplatina como terapia de primeira linha em pacientes com câncer gástrico avançado (SOLAR): um ensaio fase 3, aberto e randomizado

 

Comentário do avaliador científico:

- O resultado do estudo corrobora o achado de outro ensaio Fase 2 (Lancet Oncol 2016; 17: 19-108), pelo mesmo grupo japonês. Foram atingidos desfechos primário e secundário, mas aquém do esperado pelos autores na comparação com o outro estudo citado, em que pesem as dificuldades de contraponto entre dois ensaios distintos. A proporção de pacientes ECOG 0, que foi menor nesse Fase 3, bem como heterogeneidades populacionais (o SOLAR incluiu pacientes sul-coreanos, que sobreviveram menos em comparação aos japoneses, na análise de subgrupo), poderiam explicar a diferença. Ademais, vários estudos demonstram que pacientes japoneses têm menor Tumor Burden que outras populações, além de terem acesso melhor a terapias pós-estudo (imunoterapia, por exemplo).

- O SOLAR foi positivo, mas a diferença nas sobrevidas foi exígua, não chegou a 1 mês para a SG, menos que isso para a SLP. A nova intervenção mostrou-se segura, entretanto.

- Seria razoável adotar S-1 + Oxaliplatina como grupo controle, mas o G-SOX de 2015 demonstrou que esse doublet foi não-inferior à S-1 + CDDP. 

- Uma limitação do SOLAR foi que a análise primária não foi baseada na população intention-to-treat.

- O estudo tem relevância para as populações asiáticas, e, em que pesem os dados que demonstram que os caucasianos não toleram tão bem as doses de S1 do ensaio, enseja também implicações universais, já que TAS-118 + oxaliplatina pode ser o novo padrão-ouro para o manejo sistêmico dos pacientes orientais com câncer gástrico avançado.

 

Avaliador Científico:

Dr. Diego Franco Silveira Fernandes 

Residência médica pela Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte.

Oncologista clínico e responsável técnico pelo Serviço de Oncologia do Hospital Daher Lago Sul, Brasília DF.

Oncologista clínico do Grupo de Tumores Gastrointestinais de Instituto Hospital de Base do Distrito Federal.