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SBOC REVIEW

SBOC Review ASCO 2017 – Tumores do Trato Gastrointestinal (Alto)

Abstract 1 – Ann-Lii Cheng, Phase III trial of levantinib (LEN) vs sorafenib (SOR) in first line treatment of patients (pts) with unresectable hepatocellular carcinoma (uHCC). No  = 4001

Lenvatinib é um inibidor do VEGFR, FGFR, PDGFRα, RET e KIT. Neste estudo fase III de não-inferioridade (NI), 954 pacientes portadores de hepatocarcinoma irressecável (Barcelona B ou C, Child-Pugh A, ECOG-OS ≤ 1 foram randomizados 1:1 para receber LEN (peso ≥ 60 Kg: 12 mg/d; < 60 Kg: 8 mg/d) ou  SOR 400 mg 12/12h em primeira linha de tratamento. O objetivo primário do estudo foi avaliar SG. A margem de NI pré-definida foi de 1,08. A SG mediana foi 13,6m (LEN) x 12,3 m (SOR), HR 0,92; IC 0,79-1,06. A SLP, o tempo para progressão e taxa de resposta para LEN x SOR, foram, respectivamente, 7,4m x 3,7m (HR 0.66; IC 0,57-0,77); 8,9m x 3,7m (HR 0,63; IC 0,53-0,73) e 24% x 9%. Os eventos adversos mais prevalentes para LEN foram HAS, diarréia, perda de apetite, perda de peso e fadiga. 30% dos pacientes do grupo LEN receberam SOR em segunda linha. LEN é não-inferior a SOR em SG e atingiu benefício significativo para SLP, TTP e TR.

Comentário: Este estudo de não-inferioridade atingiu o seu objetivo primário de ser não inferior, entretanto não podemos afirmar que seja superior ao sorafenibe. O perfil de toxicidade é semelhante entre as duas drogas. É uma nova opção para o tratamento do hepatocarcinoma, porém ainda não podemos afirmar que seria o novo tratamento padrão.

 

Abstract 2 – Charles S. Fuchs, KEYNOTE-059 cohort 1: Efficacy and safety of pembrolizumab (pembro) monotherapy in patients with previously treated advanced gastric cancer. No = 4003

Estudo de fase 2 de pembrolizumabe em 259 pacientes (ECOG-PS 0-1) portadores de câncer gástrico ou junção esôfago-gástrica, recorrentes ou metastáticos, com progressão de doença a 2 ou mais linhas de tratamento anteriores. Os pacientes recebiam pembro na dose de 200 mg  a cada 3 semanas por até 2 anos ou progressão/toxicidade inaceitável. PDL1+ foi considerado expressão ≥ 1% na IHQ (anticorpo 22C3). Os objetivos primários foram taxa de resposta (RECIST 1.1, revisão central), segurança e tolerabilidade. 57,1% dos pacientes foram PDL1+. A TR foi 11,2% (IC 7,6-15,9), 1,9% dos pacientes teve resposta completa. A duração mediana de resposta foi 8,1m. Nos pacientes PDL1+, a TR foi de 15,5%, enquanto, nos PDL1-, foi 5,5%. 4% dos pacientes apresentavam instabilidade microssatélite. A taxa de resposta foi 57% nos MSI e 9% nos MSS. Eventos adversos G3-5 ocorreram em 16,6% dos pts. Pembro mostrou eficácia e segurança animadores após ≥ 2 linhas de tratamento.

Comentário: Imunoterapia com pembrolizumabe se mostrou eficaz como tratamento de resgate nos pacientes portadores de câncer gástrico/TEG. A taxa de resposta foi maior em PDL1+, porém houve pacientes PDL1- que apresentaram resposta. Em relação à MSI, esta diferença foi mais acentuada, corroborando a recente aprovação do FDA para o pembrolizumabe nos pacientes com MSI. 

 

Abstract 3 – Salah-Eddin Al-Batran, Perioperative chemotherapy with docetaxel, oxaliplatin, and fluorouracil/leucovorin (FLOT) versus epirubicin, cisplatin, and fluorouracil or capecitabine (ECF/ECX) for resectable gastric or gastroesophageal junction (GEJ) adenocarcinoma (FLOT4-AIO): A multicenter, randomized phase 3 trial. No = 4004

FLOT4 é um estudo fase 3, multicêntrico, randomizado que comparou a eficácia da quimioterapia perioperatória baseada em fluoropirimida e platina com docetaxel versus antraciclina, em pacientes portadores de câncer gástrico/JEG ressecáveis (≥ cT2e/ou cN+). O esquema terapêutico consistia de 3 ciclos pré e 3 ciclos pós-operatórios de ECF/ECX a cada 3 semanas  versos 4 ciclos pré e 4 ciclos pós-operatórios de FLOT a cada 2 semanas (docetaxel 50 mg/m2, oxaliplatina 85mg/m2, leucovorin 200mg/m2 e 5-FU2600 mg/m2 em 24h). O objetivo primário foi SG. Foram randomizados 716 pacientes (idade mediana 62 anos, cT3/4 81%, cN+ 80%, TEG 56%). Comparando ECF/ECX x FLOT, 91% x 90% completaram a QT pré-op e 37% x 50% completaram a QT pós-op, respectivamente. A SG foi 35m no grupo ECF/ECX x 50m no grupo FLOT (HR 0,77; IC 0,63-0,94; p=0,012) e a SLP foi 18m x 30m (HR 0,75; IC 0,62-0,91; p=0,004). A sobrevida em 3 anos foi 57% (FLOT) x 48% (ECF/ECX). FLOT perioperatório melhorou os resultados neste cenário comparado com ECF/ECX.

Comentário: A incorporação do docetaxel no tratamento perioperatório (esquema FLOT) apresentou melhores resultados quando comparado ao esquema (ECF/ECF). FLOT deve se tornar o novo tratamento perioperatório padrão no câncer gástrico/JEG. Ainda questiona-se o papel do tratamento pós-operatório, tendo em vista o alto índice de descontinuidade do tratamento neste cenário. 

 

Abstract 4 –John Neil Primrose, Adjuvant capecitabine for biliary tract cancer: The BILCAP randomized study. No = LBA4001

O câncer do trato biliar apresenta um prognóstico desfavorável, apesar das melhorias no manejo multidisciplinar. BILCAP avaliou se capecitabina adjuvante (1250mg/m2 D1-D14 a cada 21 dias por 8 ciclos) aumentaria a SG comparado com observação (objetivo primário = SG na população por intenção de tratar). 447 pacientes foram randomizados (idade mediana 63 anos; maioria ECOG-PS 0-1; 19% intra-hepático, 28% hilar, 35% extra-hepático e 18% vesícula; ressecção R0 em 62% e R1 em 38%; 46% N0). A SG na análise por ITT foi 51m para capecitabina x 36m para observação (HR 0,8; IC 0,63-1,04; p=0,097). Análise após sensibilização com ajuste para status nodal, grau da doença e gênero indicou um HR 0,71 (IC 0,55-0,92; p<0,01). Na análise por protocolo, a SG foi 53m para capecitabina x 36m para observação (HR 0,75; IC 0,58-0,97; p=0.028). A SLD (ITT) foi 25m x 18m. O estudo conclui que capecitabina adjuvante aumenta a SG dos pacientes portadores de câncer do trato biliar. 

Comentários: A SG na população ITT não foi estatisticamente significativa, porém após sensibilização da análise para alguns critérios de estratificação, o ganho em SG foi positivo. Mesmo sendo criticável a análise estatística do estudo, diante de uma doença com prognóstico tão desfavorável e de um resultado numericamente tão expressivo, este tratamento provavelmente será incorporado à prática clínica. 

 

Rafael Caires, MD
Médico graduado pela Universidade de Pernambuco. Residência de Clínica Médica na UNIFESP/EPM e residência de Oncologia Clínica no ICESP/FMUSP. Atualmente é oncologista clínico da Clínica Multihemo / Grupo oncoclínicas, HC/UFPE e Hospital de Câncer de Pernambuco.