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SBOC REVIEW

Sobrevida global com sacituzumabe-govitecano em câncer de mama receptor hormonal-positivo HER2-negativo metastático (TROPiCS-02): um estudo aberto randomizado multicêntrico de fase 3

Resumo do artigo:

Cerca de 70% dos carcinomas de mama possuem receptores hormonais positivos. Dentro disso, no cenário metastático, a hormonioterapia constitui a pedra angular no tratamento. Contudo, quando a doença não responde mais ao tratamento hormonal, a quimioterapia passa a ser o tratamento de escolha e esquemas com taxas de resposta elevadas e, principalmente, com ganho de sobrevida clinicamente significativo são uma necessidade pouco atendida ainda nesse cenário.

O sacituzumabe-govitecan constitui-se de anticorpo droga-conjugado formado de um anticorpo monoclonal anti-TROP2 (presente na superfície das células tumorais) ligado ao SN-38, um metabólito ativo do irinotecano. Contudo, mensurar o grau de expressão de TROP-2, amplamente expresso no câncer de mama, não parece ter utilidade clínica.

O estudo TROPICS-02 fase III randomizado avaliou a eficácia do sacituzumabe-govitecano comparado a quimioterapia de escolha do investigador (eribulina, capecitabina, gencitabina ou vinorelbina) em pacientes com câncer de mama metastático ou irressecável receptor hormonal positivo HER 2 negativo hormônio-resistente e quimio-resistente (tendo recebido 2 ou mais regimes de quimioterapia).

Os pacientes foram randomizados de 1:1 para receber a dose de 10 mg/kg de sacituzumabe D1 e D8 a cada 21 dias versus a quimioterapia de escolha do investigador. A estratificação se deu por metástase visceral, ultima linha de hormonioterapia com duração de 6 meses ou mais e número de linhas de quimioterapia prévia no cenário metastático (2 versus 3 ou 4).

A população do estudo era formada da maioria das pacientes metástase visceral hepática (84%), com média de 4 regimes prévios de quimioterapia (podendo chegar a 9 regimes), média 25% com doença metastática de novo, a maioria tendo usado hormonioterapia paliativa há mais de 6 meses (84%). No braço da quimioterapia, 48% das pacientes receberam eribulina como tratamento de escolha do investigador.

A primeira análise já havia mostrado ganho de sobrevida livre de progressão de 4 para 5,5 meses (HR 0,76) quando comparadas aos esquemas de quimioterapia citados. A taxa de resposta foi de 21% no braço do sacituzumabe govitecano versus 14 % no controle.

Na análise de sobrevida global, o braço do sacituzumabe gibiteca o alcançou 14,4 meses versus 11,2 meses da quimioterapia (HR 0.79, IC 95% 0,65-0,96, p=0,01). Houve consistência no ganho em todos os subgrupos avaliados.

A toxicidade grau 3 se deu às custas de: neutropenia 51% versus 38%, diarreia 9% vs 1% no braço da quimioterapia e neuropatia 9% vs 15%, nos braços do sacituzumabe e quimioterapia, respectivamente. Alopecia grau 2 (mais de 50% de perda do volume capilar) ocorreu em 39% das pacientes que utilizaram sacituzumabe versus 7% no braço controle.

Em suma, o estudo demonstrou ganho estatisticamente significativo de sobrevida global na população com câncer de mama metastático receptor-hormonal positivo HER 2 negativo após hormonioterapia e ao menos 2 linhas prévias de quimioterapia.

Comentário do avaliador científico:

Sacituzumabe-govitecano demonstrou ganho de sobrevida global em câncer de mama metastático receptor-hormonal positivo que muda a prática clínica e torna a droga uma opção relevante quando as pacientes se tornam resistentes à terapia hormonal. Nesse cenário, esquemas clássicos de quimioterapia não oferecem uma mudança de paradigma da doença e a droga parece demonstrar um papel importante em cenários mais precoces de tratamento.

Vale ressaltar que sua indicação se dá no cenário resistente à terapia hormonal e que, no estudo em questão, as pacientes haviam realizado regimes de quimioterapia com taxanos e antraciclinas na grande maioria, as duas drogas principais, até então, nesse cenário. Ainda assim comparados aos outros esquemas de escolha do investigador, o ganho foi clinicamente relevante. O que ainda resta ser esclarecido é a sequência de tratamento nas pacientes com HER 2 low (1ou 2 +), uma vez disponível trastuzumabe-deruxtecan em indicação semelhante e também com ganho de sobrevida global no estudo Destiny-Breast 04.

As questões quanto à toxicidade são também importantes no manejo dessas pacientes e na melhora da qualidade de vida.

 

Citação: Rugo HS et al. Overall survival with sacituzumab govitecan in hormone receptor-positive and human epidermal growth factor receptor 2-negative metastatic breast cancer (TROPiCS-02): a randomised, open-label, multicentre, phase 3 trial. Lancet. 2023 Aug 23:S0140-6736(23)01245-X. doi: 10.1016/S0140-6736(23)01245-X.

 

Avaliador científico:

Dr. Daniel Musse

Médico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Oncologista clínico pelo Instituto Nacional do Cancer.

Oncologista Clínico – Oncologia D’Or e Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro.

Preceptor de tumores femininos da residência médica em oncologia da Rede D’Or