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SBOC REVIEW

Sobrevida global em pacientes com câncer de pâncreas recebendo terapias compatíveis com perfil molecular: uma análise retrospectiva do “Know Your Tumor registry trial”

Resumo do artigo

É estimado que o  tumor de pâncreas seja a segunda causa de morte por câncer até 2030. Na doença avançada já se sabe que este é um câncer que tem sobrevida pequena quando comparado a outros tumores (com sobrevida média de 12 meses). Na procura por novas terapias, e baseado em resultados positivos em outros tumores, um esforço grande tem sido feito no sentido de se encontrar terapias com alvo molecular definido, e assim, obter maior chance de sucesso. Hoje sabemos que entre 12 a 25% de pacientes com câncer de pâncreas tem alterações moleculares passíveis de receberam terapia especifica.
Este é um estudo retrospectivo realizado em 1856 pacientes, com diagnóstico de adenocarcinoma (na sua maioria), ou carcinoma adenoescamoso ou  carcinoma de células acinares, que foram referidos ao programa americano KYT (Know Your Tumor), cuja  a intenção é permitir acesso a  estudos de perfil  molecular, e assim, identificar a terapia alvo mais adequada , bem como recomendações para estudos clínicos. O objetivo primário do estudo  foi a sobrevida global média,  calculada do início do diagnóstico  da doença avançada até a morte. A análise de sobrevida foi realizada em 677 pacientes, que receberam pelo menos uma linha de tratamento para doença avançada e que tinham seguimento suficiente para avaliar se eles haviam recebido uma terapia correspondente à alteração molecular encontrada, ou não. A sobrevida global foi comparada entre: 1. Pacientes que receberam terapia molecular compatível com o achado molecular versus os que não receberam terapia molecular compatével com o achado; 2. Pacientes que receberam terapia molecular de acordo com os achados versus os que não tinham alteraçao molecular compatível com qualquer terapia; 3. Pacientes que receberam uma terapia não compativel com alteração encontrada versus os que não tinham nenhuma alteração molecular identificada.
Dos 189 pacientes cujo tumor tinha alterações moleculares passíveis de terapia, 26% receberam terapia molecular compatíveis com os achados. Com 383 dias de follow up, 40% dos 677 pacientes permaneciam vivos. Dos que morreram 21 pacientes eram do grupo que tinham terapia com alvo definido, 83 pacientes do grupo que não recebeu a terapia do alvo identificado, e 300 sem alvo definido. A sobrevida global foi significativamente maior no grupo que recebeu terapia compatível com o alvo encontrado do que no grupo que recebeu terapia não associada a alteração molecular identificada (HR 0,42, p = 0,0004). Já a sobrevida global dos pacientes sem alterações passíveis de alvo terapêutico foi signifcativamente menor do que os pacientes que tiveram acesso a tratamento com terapia específica para a alteração molecular encontrada, mas foi semelhante aos que receberam terapia que não era compatível com o perfil molecular identificado. A diferença nos dados de sobrevida dos grupos acima se repetiu independente da linha de tratamento. Análise de possiveis fatores de confundimento como:  idade, sexo e status cirúrgico (avançado versus ressecável), não foram significantes. Dos 189 pacientes (cujo os tumores tinham alterações moleculares passíveis de terapia) 94 (13%), tinham mutações na via de reparo ao dano do DNA.  A sobrevida global foi significativamente maior nos que receberam terapia com inibidores de PARP ou ATR, dos que não receberam terapia alvo definido (3,8 anos versus 3,1 anos) HR 0.48 e p= 0,033.

 

Overall survival in patients with pancreatic cancer receiving matched therapies following molecular profiling: a retrospective analysis of the Know Your Tumor registry trial. Pishvaian et al. Lancet Oncol. 2020 Apr;21(4):508-518.
Sobrevida Global em pacientes com câncer de pâncreas recebendo terapias compatíveis com perfil molecular: uma análise retrospectiva do “Know Your Tumor registry trial”.

 

Comentário da avaliadora científica:
Apesar de 25% dos pacientes com câncer de pâncreas poderem eventualmente se beneficiar de terapias especificas para alterações moleculares identificáveis, no sistema de saúde dos EUA, o uso de terapia alvo molecular para câncer de pâncreas é limitado a 5% dos pacientes. As causas vão desde a agressividade do tumor, que não permite espera para definição de tratamento, até fatores logisticos e econômicos.
O estudo mostra que há beneficio na sobrevida global dos pacientes com câncer de pâncreas avançado quando é identificado alterações passíveis de terapia específica. Os melhores exemplos dos alvos são: inibidores de PARP para mutações germinativas de BRCA 1 e BRCA2, inibidores de TRK para fusões de NTRK1, NTRK2 ou NRK3, inibidores de imuno ckeck points para dMMR  ou MSI- H.
Os pontos fracos do estudo são: 1. Ser um estudo restrospectivo; 2. A escolha do tratamento ter ficado definido pela preferência do médico assistente e do paciente (motivo pelo qual a maioria dos pacientes que tinha alvo definido não fez uso de terapia compatível com o mesmo). 3. Como consequência, se forem considerados todos os pacientes referidos para o estudo, só 2% receberam terapia compatível com o perfil molecular encontrado. No entanto, este é o estudo que até o momento incluiu o maior número de pacientes para esta avaliação, e deve incentivar outros, bem como identificar terapias com ênfase nas alterações nos genes de reparo de recombinação homóloga de DNA.

 

Avaliadora científica
Dra. Maria de Lourdes Lopes de Oliveira
Mestre em Oncologia (INCA). Ex-presidente da SBOC-RJ. Oncologista na Rede D'Or RJ.