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SBOC REVIEW

Tireoidectomia sem o uso de iodo radioativo em pacientes com câncer de tireoide de baixo risco

Resumo do artigo:

O estudo ESTIMABL2, fase III, foi realizado dentro da Rede de Refractaires Tumeurs de la Thyroid com apoio do Ministério da Saúde francês. Desenhado no contexto de avaliar o benefício da administração pós-operatória do iodo radioativo (iodo-131) em pacientes com câncer de tireoide diferenciado de baixo risco submetidos à tireoidectomia, indicação considerada controversa pela ausência de benefícios demonstrados.

O estudo incluiu pacientes considerados de baixo risco, para receber tratamento com ablação pós-operatória com iodo- 131 (1.1 GBq) com o uso de TSH recombinante ou não receber intervenção no grupo controle.

O estudo foi desenhado para a não inferioridade com um desfecho primário final composto que englobam anormalidades funcionais, estruturais e biológicas em 3 anos de seguimento padrão. No método estatístico o estudo tinha 90% de poder de determinar a margem de não inferioridade, definida como uma diferença de menos de 5 pontos percentuais na porcentagem de pacientes que não tiveram eventos.

Um total de 776 pacientes foram randomizados em 35 centros, com uma população muito representativa do câncer de tireoide bem diferenciado e de baixo risco, com predomínio da população feminina, média de idade de 52 anos, histologia principal papilífera e estágio predominante foi pTN pT1b N0 ou Nx.

O desfecho primário do estudo ocorreu em menos de 5% dos pacientes dos dois grupos que tiveram eventos incluídos, presença de focos de captação de iodo-131 fora do leito tireoidiano na pós-ablação (evento funcional), elevação sérica da tireoglobulina ou anticorpo antitireoglobulina (evento biológico) e alteração no exame ultrassonográfico do pescoço (evento estrutural). Para uma diferença entre os grupos de -0,3% (IC de 90% bilateral, -2,7 a 2,2), que atingiu o ponto de corte de não inferioridade para o não uso de iodo-131. Resultados semelhantes foram obtidos na população com intenção de tratar e após ajuste para fatores de estratificação.

O aumento do nível sérico de tireoglobulina acima de 1 ng por mililitro no pós-operatório durante o tratamento com hormônio tireoidiano se destacou por apresentar relação com o maior número de eventos.

Os desfechos secundários foram semelhantes nos dois grupos em relação à qualidade de vida, ansiedade e medo de recorrência.

Os achados genômicos foram semelhantes ao já conhecido padrão molecular do câncer de tireoide, com a mutação BRAF V600E presente em mais da metade dos pacientes e não conferindo uma evolução mais desfavorável.

Como conclusão, o estudo randomizado de não inferioridade ESTIMABL2 avaliou o papel do iodo-131 nos pacientes de risco baixo após a tiroidectomia total comparando observação versus iodo-131 de 30 mCi com TSH recombinante. O resultado mostrou que a observação não foi inferior ao tratamento pós-operatório com iodo radioativo.

 

 

Leboulleux S, Bournaud C, Chougnet CN, Zerdoud S, Al Ghuzlan A, Catargi B, Do Cao C, Kelly A, Barge ML, Lacroix L, Dygai I, Vera P, Rusu D, Schneegans O, Benisvy D, Klein M, Roux J, Eberle MC, Bastie D, Nascimento C, Giraudet AL, Le Moullec N, Bardet S, Drui D, Roudaut N, Godbert Y, Morel O, Drutel A, Lamartina L, Schvartz C, Velayoudom FL, Schlumberger MJ, Leenhardt L, Borget I. Thyroidectomy without Radioiodine in Patients with Low-Risk Thyroid Cancer. N Engl J Med. 2022 Mar 10;386(10):923-932. doi: 10.1056/NEJMoa2111953. PMID: 35263518.
Tireoidectomia sem o uso de iodo radioativo em pacientes com câncer de tireoide de baixo risco.

 

Comentário da avaliadora científica:

A terapia com iodo radioativo (iodo-131) tem sido utilizada no manejo de pacientes com câncer de tireoide bem diferenciado desde a década de 1940. Historicamente, o tratamento vem reduzindo as doses de iodo, sem haver prejuízo nas taxas de remissão/cura da doença.

Apesar dessa tendência de evitar o uso de iodo em carcinomas de baixo risco e quando utilizar for em baixa dose (30 mCi) estar publicada no guideline da ATA de 2015, essa recomendação era baseada em opiniões de especialistas e agora começam a surgir mais evidências para nortear essas condutas.

A avaliação por ultrassonografia do pescoço combinada com a medida da tiroglobulina é o método mais sensível para a detecção de doença residual e no desenho do estudo em questão, caracterizavam os eventos biológico e estrutural do desfecho primário.

Complicações agudas e crônicas do iodo-131 podem limitar a utilização deste tratamento, porém costumam não estar presentes na utilização de baixas doses.

Características individuais específicas do tumor podem justificar a ablação com iodo-131 em casos selecionados de baixo risco.

Favorecemos a indicação na presença de anticorpos antitireoglobulina, histologia agressiva, invasão linfática, doença linfonodal extensa, multifocalidade com focos acima de 1 cm, tireoglobulina pós operatória não estimulada acima de 1 ng/mL assim como tumores com tamanho acima de 4 cm.

*Contribuição: Dra. Paula Stefenon, endocrinologista.

 

Avaliadora científica:

Dra. Julia Pastorello
Residência em Oncologia Clínica pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Passo Fundo – RS
Coordenadora Médica do Centro de Oncologia do Hospital de Clínicas de Passo Fundo – RS
Preceptora da Residência de Oncologia Clínica da UFFS